Dê-se ao trabalho de ler

Hector Plasma
Primeiro era um curso superior, depois veio fluência em uma segunda língua, em seguida a especialização, o famigerado MBA, depois “vivências internacionais”, agora é uma terceira língua.
Cada vez mais as corporações colocam um obstáculo para aquele trabalhador que acredita que um dia chegará ao paraíso cumprindo todo calvário imposto. Mas a realidade, sempre ela, é uma só. Gradativamente há menos trabalho e mais trabalhadores.
O sociólogo Ricardo Antunes nos presenteou com um artigo que trata com muita clareza esse fenômeno, segundo ele:
“Os que têm emprego trabalham muito, sob o sistema de "metas", "competências", "qualificações", "empregabilidades" etc. E, depois de cumprirem direitinho o receituário, vivem a cada dia o risco e a iminência do não trabalho.
E isso não só nos estratos de base, onde estão os assalariados no chão da produção. Foi-se o dia em que os gestores, depois do corte, iam para suas casas com a garantia do trabalho preservado. Eles sabem que o corte deles se gesta enquanto eles laboram o talhe dos outros.”
Aqui ele alerta para um fato pouco discutido. Aqueles que fazem o trabalho sujo, o corte de gastos, planos de demissão, independentemente de terem seguido o calvário acima descrito, também um dia farão parte do corte. É um tiro no pé.
E segue: “As diversas formas de "empreendedorismo", "trabalho voluntário" e "trabalho atípico" oscilam frequentemente entre a intensificação do trabalho e sua autoexploração. Dormem sonhando com o novo "self-made man" e acordam com o pesadelo do desemprego. Empolgam-se pela falácia do empresário-de-si-mesmo, mas esbarram cada vez mais na ladeira da precarização. Em volume assustador, uma massa de homens e mulheres torna-se supérflua, esparramando-se pelo mundo em busca de um labor que já não mais existe.”
Outro ponto pouco discutido. A idéia de que cada funcionário pode ser uma empresa, nada mais é que um modo muito elaborado de precarização do trabalho. É muito comum empregados serem obrigados a se tornarem empresas, as tais das PJ’s. No primeiro momento ele sentirá o bem-estar de trabalhar em casa e ficar mais perto da família, se livrar do chefe e ser dono do seu tempo. Mas no meio do caminho ele se deparará com a incapacidade de discutir remuneração e reajustes no valor do seu trabalho.
E depois de um certo tempo esse trabalhador/empresário perceberá que só terá a sua ex-empresa como ‘cliente’.
O PJ também é a primeira vítima dos cortes de custos, pois a extinção do seu trabalho não tem custo para empresa porque ele não tem nenhum direito.
O que fica claro é que acreditar que o esforço pessoal é o grande caminho para ser coroado pelas corporações nada mais é que um esforço de fé.
Não tenha fé e leia a íntegra do artigo “A erosão do trabalho”.
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