20 de fev. de 2009

receita para amar



Fernanda Pompeu


Ser uma leitora adolescente no final dos anos 60 era uma experiência bem distinta da de hoje. Não havia essa profusão de títulos juvenis. Saltava-se das bruxas, princesas, porquinhos, narizinhos para a literatura de adultos.
Gostei de ler antes de saber. Analfabeta acariciava lombadas dos livros na estante dos meus pais, cobiçando o prazer que teria quando, finalmente, decifrasse as letras, juntasse as palavras e compreendesse as frases.
pelos meus doze anos, eu lia em todas as posições. Deitada, sentada, em pé. Detestava o grupo escolar com seu autoritarismo e suas aulas de religião apregoando que estávamos a um passo do abismo. Tudo o queria era voltar para casa e ler.
Foi por essa época que meu avô postiço, um judeu tcheco que deu nesses costados fugindo dos pogroms nazistas, me apresentou Franz Kafka. Já que você vive lendo, conheça um autor de qualidade.
Entrei no mundo kafkiano pela porta da frente. Meu avô me presenteou com A Metamorfose. Direi um senso comum, mas nem por isso inverídico, Gregor Samsa - o caixeiro-viajante que desperta no corpo de um inseto - inflamou minha imaginação.
Literariamente peguei fogo. Fiz do escritor de Praga um grande companheiro. Na sequência, vieram O Processo, O Castelo, Cartas ao Pai e meu arroubo, um tanto suicida, um tanto redentor, de aventurar-me escritora.

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