Fernanda Pompeu
O sobrado ficava em Pinheiros - a Manhattan paulistana. Ali na Artur de Azevedo, entre a Alves Guimarães e a Cristiano Viana. Era todo inho: modestinho, desbotadinho, bonitinho.
Tinha um janelão que dava para a rua. Atrás do janelão, tinha uma mesa; em cima da mesa, uma remington de aço (feita para durar uma vida toda). Atrás da máquina, um escritor de cabelos brancos. Eu tinha vinte e nove anos e um único sonho: ser escritora.
Às cinco da manhã, eu pulava da cama para teclar, na minha Praxis 20 – uma olivetti eletrônica-, metáforas curvilíneas de um romance barroco Cá Camila, ou uma invenção de Alegria. Romântica e ingênua (dois adjetivos que se atraem), acreditava que escrevia uma obra-prima e não suspeitava que seu destino seria o ineditismo.
A rotina é que passei a vigiar o escritor da Artur de Azevedo. Eu morava na Alves Guimarães e inventava idas à padaria da João Moura, com o objetivo de conferir se meu colega estava trabalhando. Quando encontrava o janelão fechado, maldava: o malandrinho foi passear.
Voltava correndo para casa e me punha a burilar frases estilosas. Horas depois, saía para mais uma volta, encontrava o janelão aberto e o homem atrás da máquina. Rendia-me: o fominha voltou a escrever.
O divertido dessa memória é que nunca soube o nome do homem e nem o que ele escrevia. Romance, poesia, novela de TV, roteiro de cinema? Minha total certeza, 100%, é que não era um blog.
16 de jan. de 2009
o escriba
Assinar:
Postar comentários (Atom)
2 comentários:
Sensibilidade à toda prova e fechado com chave de ouro :)
Era a bonita história que passava despercebida da remington e da olivetti, e que agora brota no blog.
Postar um comentário