12 de jan. de 2009

Compostela: difícil é sair !



Zio Carva

No meu imaginário: um vilarejo de instalações modestas, precário em tudo. A densa fé pesando sobre os fiéis. Caminhos tortuosos, peregrinos com seus cajados e andrajos, um cachorro capiongo e sarnento. Sacrifício vale a pena, o caminho de Santiago é difícil e demorado para o penitente.
Primeira surpresa, o google indica caminhos plurais traçados num mapa de toda Europa (Saint James Way, em inglês). O mais badalado pela divulgação literária é o do Norte, ou o Caminho Francês. Mas há outros mais maneiros e, pela universal lei do mínimo esforço, escolhi um de Lisboa por trem até o Porto, mais ou menos duas horas. Amigos emprestam um Golf e no dia seguinte, um sábado chuvoso, lá vamos nós. Autovia de primeiro mundo, até a fronteira com Espanha. Daí em diante também, é só ter cuidado com a sinalização. Duzentos e cinqüenta quilômetros em menos de três horas. Os nomes dos lugares, indicados na estrada, são curiosos: Casa do Curto, Picotinho, Ventoso, Coura, Cabaços, Cabeçudos, Antas e, claro, Famalicão onde o bisavô do Carvall comprou um relógio de parede de “A Boa Reguladora” no começo do século passado.
Outra surpresa ao chegar: cidade moderna, com prédios e avenidas, 100.000 habitantes, universidade com 40 mil estudantes de graduação e 3 mil e 500 de pós-graduação, instalada em 1495 (cinco anos mais velha do que o Brasil !) .
Dia de chuva, perto da Catedral (que dispensa adjetivos) um boteco razoável. Um peregrino anedótico, sem cachorro, com mochila e um cajado tosco que parecia alugado para fazer gênero, biritava um escocês “en las rocas” com sotaque carregado denotando língua estranha. Na porta da Catedral apenas um mendigo pedia, agressivo e andrajoso. A igreja é imponente por fora e por dentro, com seu imenso candelabro. Tecnologia moderna permite acender uma “vela” de modo automático: poniendo monedas de um euro acende uma das centenas de luzinhas de farolete que estão dispostas num painel. Começa piscando algum tempo, para que você saiba qual é a sua.
O retorno, de noite e com chuva, foi mais complicado. A ansiedade de chegar ao Porto pois ninguém tem tanta fé que resista tanto tempo sóbrio, mandava empregar um GPS. Aí é que mora o perigo: programando “caminho mais curto” e não “caminho mais rápido” fomos sendo aconselhados por um emaranhado de autovias e autopistas de siglas e nomes parecidos que passavam por vilas e cidadezinhas. Até termos a oportunidade de retornar à via principal passaram horas. Retardando nossa chegada ao Porto com sua fenomenal cozinha e seu espetacular vinho tinto.
Em suma foi bom, mas sair foi mais difícil do que chegar. O Caminho de Santiago de Compostela tem novos segredos a partir da introdução do GPS.

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