Fernanda Pompeu
Esta memória não é minha. É do meu pai. Aí vai o ano: 1942. O mundo em plena Segunda Guerra. O racionamento de energia e o sol, lado a lado, no Rio de Janeiro. Meu pai, com então 12 anos, entra no boteco do seu Joaquim. Mesinhas ovais com tampo de mármore e cadeiras de madeira.
O português pergunta se o garoto quer experimentar uma novidade. Xarope dos norte-americanos, acabou de chegar da fábrica de São Cristovão. Sem titubear, meu pai faz sim com a cabeça. Seu Joaquim põe sobre a mesa uma garrafinha sinuosa com um líquido escuro e frio dentro.
- Cadê o copo?
- Essa é para beber no gargalo mesmo.
O que mais impressionou o garoto foram as borbulhas, a espuma gasosa que saltou goela adentro. Ele lembra que não conseguiu definir o sabor daquela invenção. A única imagem que lhe ocorreu foi a de grãos de areia raspando a garganta.
Mas o resumo é que ele gostou. Nesse mesmo dia, chamou os amiguinhos para provar a Coca-Cola. Tal foi a sofreguidão dos bebedores, que um deles arrotou.
- Olha a educação, advertiu o português.
Depois daqueles goles iniciais, acabou o III Reich, jogaram a bomba em Hiroshima, vieram a Guerra Fria, o neoliberalismo, o 11 de Setembro, o fundamentalista Bush, a guerra do Iraque, a bandalheira dos Bancos e Barack Obama.
23 de jan. de 2009
isso é que é
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Um comentário:
Carvall, o que seria do meu texto sem a sua ilustra?
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