3 de dez. de 2008

testemunha ocular


Fernanda Pompeu
Tinha eu doze anos, quando meu pai perguntou se eu queria participar da grande passeata que prometia sacudir, no 26 de junho, a cidade do Rio de Janeiro e reverberar nos quartéis. Ele era então um comunista de carteirinha, desses que arriscavam o pescoço militando nas células do PCB.
Eu, uma adolescente embriagada por todos os sonhos do varejo e do atacado. A revolução, à luz da minha inocência, estava na virada da esquina, ao alcance do desejo.
O ano era 1968 – havia começado com o assassinato do estudante Edson Luís, 18 anos, no restaurante Calabouço; continuado com o acirramento de várias repressões e findaria com o famigerado AI-5, presente de natal da ditadura para os brasileiros.
Meu pai e eu passeateamos de mãos dadas. Formávamos um par interessante. Ele bem mais velho do que os universitários, eu bem mais nova. Íamos compenetrados no meio da multidão e engrossávamos o repertório das palavras de ordem.
O coro de vozes, para ganhar adeptos, gritava: você que é explorado, não fique aí parado. Das janelas dos prédios, choviam papel picado e aplausos. Um raro momento de comunhão da sociedade civil democrática.
Passados 40 anos da histórica Passeata dos Cem Mil, o que ficou? Deixo as respostas para cada leitor. Para mim, restou a oportunidade de contar isso.

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