5 de dez. de 2008


Ai de mim, Tijuca!


Fernanda Pompeu

O Instituto Lafayette ficava na rua Conde de Bonfim, Rio de Janeiro. Lá estudávamos meninas de classe média, todas brancas e, no final dos anos 60, sem muitos sonhos de ingressar numa faculdade. A maioria contentava-se em concluir o fundamental e só.
Eu morria de inveja do outro Lafayette, também na Tijuca, na rua Haddock Lobo, só para meninos. Tudo deles era mais vantajoso, a começar pelo prédio maior e mais bem equipado. A continuar pelos então cursos clássico e científico que só eles tinham.
Enquanto o Lafayette das meninas oferecia um laboratório de ciências com pássaros empalhados e um único esqueleto meio corpo; o Lafayette dos meninos ostentava tubos de ensaio, pias com torneirinhas e esqueletos inteiros.
A única vantagem que contávamos (a nós mesmas) era a de que o casarão, em que os professores fingiam que ensinavam e as alunas fingiam que aprendiam, havia sido a residência, por quase meio século, do Duque de Caxias – patrono do Exército Brasileiro.
Gostava de imaginar que Caxias havia engravidado a frase de efeito “quem for brasileiro que me siga” na sala em que decorávamos os tempos verbais. Gostava de imaginar que no teatro, onde não acontecia nada, o Duque ouvira o concerto da vitória sobre os paraguaios.
Depois tudo se transformou. Eu mudei para São Paulo; Caxias, de herói para serial killer. O histórico casarão foi ao chão. No enorme terreno, ergueram uma espécie da galpão. Hoje é um supermercado Sendas.

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