10 de nov. de 2008

bumerangue



por Fernanda Pompeu

Minha tia Marlene, que não está mais por aqui, amanheceu um dia dizendo vou para Brasília. Foi antes da inauguração, quando a futura capital do país era um enorme canteiro de obras dando realidade aos sonhos de arquitetos, paisagistas e políticos.
Contam que os candangos e candangas (o pessoal que pôs a mão no barro vermelho e nas cuecas e shorts para lavar) deram um duro danado para erguer o plano piloto - o tal avião - que, uma vez pronto, os expulsaria para as cidades- satélite.
Contam também que o presidente JK era um homem feliz. Gostava de bossa-nova, da revista O Cruzeiro e de frases de efeito retumbante construir 50 anos em 5.
Foram fortes as críticas. A maior delas: de que a nova capital não teria esquinas. Viver em uma cidade sem esquinas é provar um caldeirão de feijão sem tempero. Tal crítica revelou-se infundada. Os brasilienses criaram suas esquinas, só que em formato diferente.
Assim como, em uma manhã, minha tia se foi; em uma noite, voltou. Trouxe para mim um presente. Uma pequena bota de louça, com uns 10cm de altura. Dessas em que cabem duas esferográficas bic apertadinhas. A bota era o símbolo da construção de uma cidade no meio do nada.
Passados tantos anos, quando o piloto brinda os passageiros com a aconchegante mensagem em poucos minutos aterrissaremos no aeroporto internacional Presidente Juscelino Kubitschek, a imagem da bota me assalta o coração.

Um comentário:

Anônimo disse...

Este Baú sem Fundo está legal.