17 de nov. de 2008

tiro no coração



por Fernanda Pompeu

Sempre quis reunir, em um livro, lembranças de testemunhas (no caso, radiofônicas) da morte de Getúlio Dornelles Vargas. Duas vezes no poder, uma como ditador; outra como presidente eleito. Também autor da célebre lorota “esse povo de quem fui escravo (...)”.
Contam que alguns cidadãos teriam se enforcado; outros, cortado os pulsos ao saberem da morte do governante. A verdade é que o povo chorou, sem o empurrãozinho da televisão pois, na época, era só para rico ver.
Ainda não fui capaz de levar adiante o projeto do livro (espero que nenhum navegador da ONG Pi roube-me essa excelente idéia). Ao menos, tenho o título: “Onde você estava?”
Eu não estava no planeta na fatídica manhã do 24 de agosto de 1954. Mas minha mãe preparava um merengue(era aniversário dela), quando a vizinha entrou e gritou: ele morreu!
Estava tão desesperada que minha mãe pensou que o marido da amiga, o Quinzinho, havia sofrido um desastre. Ainda em prantos, a vizinha completou a frase: Getúlio se suicidou no Palácio do Catete.
Nem preciso escrever que, nessa noite, ninguém saboreou o merengue.

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