por Fernanda Pompeu
Em 1971, eu tinha quinze anos, morava no Rio de Janeiro. Além do mar, das montanhas, do barquinho e do violão, sofríamos com o fascismo da ditadura militar. Excetuando o futebol e o sexo dos anjos, ninguém podia debater livremente sobre nada. Quer dizer, até podia, mas virava suspeito de subverter a ordem e o progresso. O país parecia ter apenas dois lados. Tudo cabia em duas gavetas.
A gaveta da direita tinha: EUA, burguesia, Nelson Rodrigues, O Globo, chiclete, padre com batina, Roberto Carlos, Coca-Cola. A da esquerda enfileirava: URSS, proletariado, Dias Gomes, Jornal do Brasil, rapadura, padre sem batina, Chico Buarque, Guaraná.
Mas havia um jornal - autodenominado O Pasquim (na raiz da palavra, jornaleco) - que, aos meus olhos, fugia das gavetinhas. Seus colunistas, chargistas, convidados eram francamente contra a ditadura militar que, por sua vez, vivia censurando a publicação. No entanto, a turma do Pasquim destoava de um certo mau-humor de esquerda. O jornaleco possuía um dom raríssimo para a época e para os dias de hoje: era irreverente.
Ao mesmo tempo que clamava pela democracia, entrevistava o Madame Satã (o que nenhum jornal de esquerda sério pensaria em fazer). O jornaleco também tirou o terno e a gravata de textos e ilustrações. Leia a lista de alguns craques: Tarso de Castro, Paulo Francis, Sérgio Augusto, Ivan Lessa, Jaguar, Millôr, Ziraldo e o indelével Henfil.
Recordo a sensação subversiva de comprar o Pasquim na banca da Praça XV e me instalar na barca Rio-Niterói. Eu dividia meu olhar entre a exuberante baía de Guanabara e as páginas de um jornal que, na minha paixão juvenil, era o mais importante do mundo.
Em 1971, eu tinha quinze anos, morava no Rio de Janeiro. Além do mar, das montanhas, do barquinho e do violão, sofríamos com o fascismo da ditadura militar. Excetuando o futebol e o sexo dos anjos, ninguém podia debater livremente sobre nada. Quer dizer, até podia, mas virava suspeito de subverter a ordem e o progresso. O país parecia ter apenas dois lados. Tudo cabia em duas gavetas.
A gaveta da direita tinha: EUA, burguesia, Nelson Rodrigues, O Globo, chiclete, padre com batina, Roberto Carlos, Coca-Cola. A da esquerda enfileirava: URSS, proletariado, Dias Gomes, Jornal do Brasil, rapadura, padre sem batina, Chico Buarque, Guaraná.
Mas havia um jornal - autodenominado O Pasquim (na raiz da palavra, jornaleco) - que, aos meus olhos, fugia das gavetinhas. Seus colunistas, chargistas, convidados eram francamente contra a ditadura militar que, por sua vez, vivia censurando a publicação. No entanto, a turma do Pasquim destoava de um certo mau-humor de esquerda. O jornaleco possuía um dom raríssimo para a época e para os dias de hoje: era irreverente.
Ao mesmo tempo que clamava pela democracia, entrevistava o Madame Satã (o que nenhum jornal de esquerda sério pensaria em fazer). O jornaleco também tirou o terno e a gravata de textos e ilustrações. Leia a lista de alguns craques: Tarso de Castro, Paulo Francis, Sérgio Augusto, Ivan Lessa, Jaguar, Millôr, Ziraldo e o indelével Henfil.
Recordo a sensação subversiva de comprar o Pasquim na banca da Praça XV e me instalar na barca Rio-Niterói. Eu dividia meu olhar entre a exuberante baía de Guanabara e as páginas de um jornal que, na minha paixão juvenil, era o mais importante do mundo.
Um comentário:
Fernanda,
Fiquei imaginando o vento soprando e enrugando as páginas do jornal e também as ondas da baia da Guanabara, embalando a balsa e leitura da pessoa que na época tinha apenas 15 anos.
Também me lembrei de uma experiência "subversiva" e cheia de adrenalina da minha adolescência (a compra, em 1998, de um revista Playboy, quando eu tinha 16 anos) e fiquei pensando na diferença que poucos anos acabam imprimindo sobre as diversas gerações.
Obrigado pelas saborosas reflexões,
Caio
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