24 de nov. de 2008

gente vip


Fernanda Pompeu

Somos nós e nossas influências. Pela vida, vamos aprendendo com os saberes alheios. Lembramos de alguns, pelas falas exatas. De outros, pelos silêncios precisos.
Faz três anos, saltei na garupa de uma picape 4x4 e subi ao Quilombo Kalunga, encravado na Serra Geral, em Goiás (quase divisa com Tocantins).
Lá conheci uma quilombola, de nome Procópia, com 70 e tantos anos. Líder comunitária apontava - como quem aponta para estrelas no céu - a direção das lutas. Analfabeta, trouxe a escola primária para o Quilombo. “Quando ouço a garotada lendo, morro de orgulho.”
Foi parteira por todo o sempre, por onde passa é saudada: “Benção, Mãe Procópia.” Sem pré-natal, sem ultra-sonografia, perdeu a conta de quantos ajudou a nascer. “Porque fazia ou a criança não nascia.”
Na década de 80, Procópia impediu a construção da Hidrelétrica Foz do Bezerra que inundaria as terras kalungas - terras onde a comunidade mora faz mais de 200 anos. Ela e a amiga Santina pegavam uma canoa no tortuoso rio Paranã e tocavam para gabinetes políticos em Brasília.
Perguntada como conseguiu engavetar a hidrelétrica, respondeu: “Minha filha, sempre me dirigi aos poderosos com verdade e firmeza no coração.” Só isso? “Não, também é preciso falar olhando no olho.”

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