13 de nov. de 2009

chronos







Fernanda Pompeu


Em 1989, no bairro judeu-coreano-paulistano do Bom Retiro, quando as Oficinas Culturais Oswald de Andrade ainda se chamavam Três Rios, participei de um curso de redação literária. O escritor João Silvério Trevisan era o professor.
A turma, uma matilha de jovens. Ávidos para abocanhar os atalhos (não os caminhos) que nos levassem da febre da ideia ao texto perfeito. Tínhamos pressa de grana e fama.
Quanto aos colegas, não sei. Eu, com a escrita, só consegui trabalho duro e trabalho duro. Mas muito aprendi. O principal: só quem trilha os caminhos, descobre os atalhos.
No último dia do curso, em aula de avaliação, João Silvério sugeriu que eu abraçasse a arte da crônica. A matilha concordou. Besta então, tapei os ouvidos. Meu modelo de escritora era o do romancista, criador de tramas polifônicas de grande fôlego.
Achava a crônica um gênero minguado. A vida deu cambalhotas e, nos últimos anos, sou cronista até a medula. É uma delícia dedicar-me ao texto curto, coloquial e leve como filhote de passarinho.
Poderia ter agarrado esse gênero – útil e fútil, como alguém já definiu, - há muito mais páginas. Porém, cai na esparrela de que o sonho é mais digno que a vigília e o ideal superior ao real.
Não são.

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