7 de set. de 2009

Ana Cristina






Amanda Andrade

"Eu vivo sem saber até quando ainda estou vivo,
sem saber o calibre do perigo
Eu não sei da onde vem o tiro"

Hebert Vianna_O Calibre


Ana Cristina é o retrato de muitas jovens brasileiras: nascida no nordeste, veio com os pais ainda pequena para São Paulo em busca de uma vida melhor. Cresceu em Heliópolis e ali também conheceu seu namorado que em poucos meses tornou-se também pai de sua filha. A gravidez ocorreu apesar de sua pouca idade, mas a vida continuava e ela fazia planos para uma vida melhor. Queria estudar e ser juíza.
Era noite de segunda-feira na maior favela de São Paulo. Ana andava pela Estrada das Lágrimas voltado do colégio. Não muito longe dali um carro era roubado e policiais começaram uma perseguição aos bandidos que entraram na favela. Foi nesse momento que os destinos de Ana e do policial municipal de São Caetano do Sul se encontraram. Em poucos instantes, sangue. Correria. Tumulto. O policial tremia, a garota agonizava no chão, ferida no pescoço, coberta de medo e desespero. A vida escorria na sarjeta da rua, e Ana foi colocada em uma viatura policial já morta, abraçada ao caderno que levava.
Revolta, rancor, ódio. Selvageria. Em um Brasil onde as balas são perdidas e armas não tem donos, as pessoas continuam morrendo e virando notas nos jornais, mas a dor e o sofrimento continuam lá, aterrorizando e invadindo os muros, as casas, destruindo famílias e futuros de pessoas de bem.
Não foi a bala do policial já expulso anteriormente da PM que matou Ana Cristina: foi a nossa negligência e o nosso silêncio, foi a sociedade virando as costas mais uma vez para um problema que cresce a cada dia e que nós, pequenos burgueses, mudamos o canal para não assistir a tragédia que hoje é alheia, mas um dia poderá nos tocar.

2 comentários:

Cris disse...

um bom começo

Fernanda Pompeu disse...

Não. Um ótimo começo.