12 de mar. de 2008

Colômbia-Venezuela



por Carlos Azevedo na edição 132 da Caros Amigos

No final de janeiro, a secretária de Estado dos Estados Unidos, Condoleezza Rice, visitou a Colômbia, reuniu-se com autoridades, militares e ex-paramilitares, em Bogotá. Dois temas foram discutidos, o TLC, Tratado de Livre Comércio entre os dois países, e o combate à guerrilha das FARC, sem esquecer que desse segundo tema faz parte a polêmica da Colômbia com a Venezuela. Essa polêmica ficou mais acalorada depois que, através da intermediação de Hugo Chávez, a guerrilha libertou duas reféns. Os Estados Unidos reagiram imediatamente, pela voz de um comandante militar, que acusou a Venezuela de estar promovendo uma corrida armamentista para fazer guerra à Colômbia.
É sabido que por onde Condoleezza Rice passa fica um incentivo à guerra. Por isso, no dia seguinte, o presidente Hugo Chávez, da Venezuela, declarou que os Estados Unidos e a Colômbia estavam criando um clima de guerra contra o seu país. E advertiu: o Exército venezuelano está preparado para se defender em caso de guerra. No programa Alô Presidente de 10 de fevereiro último transmitido do Estado fronteiriço de Táchira, Chávez, possivelmente informado por seus aliados dentro do governo colombiano, detalhou o plano. Disse que a tática adotada é a de infiltrar paramilitares em território venezuelano. “Nós estamos sentindo o impacto aqui em Barinas, no Alto Apure, Táchira e Zulia, ao longo da fronteira, e chegam até Caracas”, afirmou.
Em toda a sua fronteira oeste, a Venezuela se confronta com a Colômbia. São cerca de 1.600 quilômetros, desde as margens do Caribe até as florestas amazônicas (ver mapa). Essa fronteira vem se tornando um problema entre os dois países. Empenhado na guerra às FARC, o governo colombiano, esse sim, contando com apoio bilionário em armamentos (5 bilhões de dólares nos últimos anos) e a supervisão dos Estados Unidos, vem pressionando a guerrilha contra a fronteira. Nada seria mais conveniente para a estratégia americano-colombiana do que acusar a Venezuela de dar guarida aos guerrilheiros. Apesar de repetidas denúncias, isso nunca se comprovou.
O governo da Colômbia, ao contrário, já violou diversas vezes o território do país vizinho. Prendeu um guerrilheiro das FARC em Caracas e o levou para Bogotá. E os venezuelanos detiveram cerca de 150 paramilitares colombianos em seu território e os acusaram de invadir o país com um plano de assassinar o presidente Chávez.
A Venezuela se preocupa com a fronteira por vários motivos. Um deles é o contrabando sistemático de alimentos e combustíveis para a Colômbia, aproveitando-se de que o governo Chávez mantém os preços desses produtos subsidiados. Isso também faria parte de uma estratégia da oposição venezuelana de conturbar o abastecimento e sabotar a economia.
Outro motivo de preocupação é que no Estado venezuelano de Zulia, localizado na fronteira e governado pela oposição, se encontra o lago Maracaibo, onde se dá a maior parte da produção de petróleo venezuelano. No caso de uma guerra com a Colômbia, o petróleo de Maracaibo seria certamente um dos alvos.
A recuperação do controle do petróleo da Venezuela, uma das maiores reservas do planeta, sendo o país um dos grandes exportadores mundiais, é o objetivo final dos Estados Unidos. Aos que duvidam disso, basta lembrar a guerra que levou Bush a invadir o Iraque, de onde no momento os americanos extraem 3 milhões de barris por dia.


A HISTÓRIA
Nas guerras da independência, Colômbia e Venezuela foram um único país, formado por Simón Bolívar e chamado a Grande Colômbia, que não resistiu muito às lutas fratricidas entre os exércitos de caudilhos. Separados, os dois países continuaram próximos, através de dois séculos, com povos de origem semelhante, com as mesmas tradições, os mesmos heróis e vilões.
A guerra civil na Colômbia prolonga-se há sessenta anos, desde o assassinato de Jorge Gaitán, planejado por um agente da CIA. O crime provocou uma revolta popular, o bogotazo, e, a seguir, a represália do governo, com o massacre generalizado de comunistas e outras lideranças populares. Um ano depois, em 1949, o jovem Marulanda, então com 19 anos, formava seu grupo de guerrilha, que hoje são as FARC, Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia, com um contingente avaliado em 17.000 guerrilheiros. O conflito já provocou dezenas de milhares de mortos. Nos últimos anos, o governo do presidente Uribe, pesadamente armado e sustentado pelos EUA, acentuou o clima repressivo, tentando eliminar as FARC pela ação policial-militar e impedindo com grande violência as manifestações da oposição. Chávez tem boas razões para se preocupar.

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