Fernanda Pompeu
Terça-feira, 8 de setembro de 2009. Gastei quatro horas e vinte minutos do aeroporto de Cumbica à Vila Madalena. Fui testemunha ocular do que ocorre quando chove forte e demoradamente em Sampa.
Crônica sem sal. Todo mundo conhece essa história. Mas eu nunca havia sentido, no carro e na pele, o que é passar uma tarde inteira trancada na marginal do Tietê.
Assim do ladinho do rio, cujo nível estava altíssimo, escancarando um mar de garrafas PET (politereftalato de etileno). Coca-cola e guaraná pau a pau na quantidade e feiura.
Sem ter como escapar - de um lado o rio, do outro um paredão de caminhões – dei tratos à memória da cidade. Recordei fotos de um Tietê oxigenado com pescadores, canoeiros, campeões de natação.
Quis adivinhar o que mais diria Heráclito (cerca 490a.C), autor da delícia “ninguém se banha duas vezes nas mesmas água de um rio”, se fosse paulistano e estivesse preso nesse engarrafamento.
Longe de ser Poliana – personagem de Eleaonor Porter, capaz de enxergar positividades em circunstâncias negativas – experimentei um momento de poesia urbana. Como não havia chance de velocidade, pude observar o Tietê e sonhá-lo.
Por esses dias, tento adivinhar o que essa experiência, inquietante e tediosa ao mesmo tempo, quer me sussurrar.
14 de set. de 2009
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