7 de set. de 2009

entre margens








Fernanda Pompeu

Minha amiga Sara, 84 anos, foge do computador como o gato do cachorro. Ela tem uma biografia cheia. Foi presa política, teve companheiros assassinados pela ditadura, viveu dez anos no exílio e segue atuando pelo que acredita.Tem todo esse currículo e morre de medo do e-mail, do messenger, do pdf.
Diogo, meu sobrinho de 16 anos, se comparado com Sara, nasceu anteontem. Ele não vê televisão e dorme com o computador ligado. Digita bulas inteiras no celular com destreza de ilusionista. Conhece tudo do orkut, facebook, youtube.
Entre a octogenária e o adolescente, está a minha geração cinquentona - a dos infointermediários. Antes de escrever num teclado de computador, catei milho sucessivamente em uma remington, olympia, olivetti. Para quem não sabe, marcas de máquinas de escrever.
Volta e meia, narro relíquias para redatores da casa dos vinte. Conto como era datilografar: quando queríamos mudar a posição de palavras em uma mesma linha, tínhamos que desprezar o já escrito, pôr um novo papel e recomeçar.
Quando digo que o corretor ortográfico – o branquinho da redação - era um líquido espesso que passávamos sobre a letra ou palavra e precisávamos soprar para que ele secasse, vejo os olhos do interlocutor arregalar.
É fato que escrevo blogs, tenho intimidade com a internet e meu santo padroeiro, para quem pago o provedor, é o São Google.
Minha vida com a informática, se não é sobrenatural como é para a Sara, não é natural como é para o Diogo. Fico assim na coluna do meio. Nem intimidada, nem deslumbrada.
Apenas penso que a época em que nascemos é o nosso determinante. Dela, ninguém escapa.

2 comentários:

Anônimo disse...

Mais um texto excelente da Fernanda...faltou apenas comentar que tinha também a diferença entre aqueles aparelhos antigos de música, a nossa fita cassete/disco e o Cd...uma vez uma amiga minha que não conhecia CD pediu para virar o lado pois queria ouvir uma mpusica que estava no final...eu dei muita risada.

abs

Wal Manassero

silvia disse...

Linda crônica, Fernanda.
Faz lembrar a máquina xerox que era só preto e branco.
Sem ampliação ou redução.
De quando eu trabalhava na gráfica,
beijo