Uma vez, vi um menino morto na subida do morro. Ele teria de onze a treze anos. Suas pernas eram gambitos imberbes. Não olhei seu rosto. Fora alvejado pelas costas. Findou com o nariz enfiado na lama.
Para mim, não tinha importância se ele havia sido assassinado pelo Estado, por meio da polícia; ou pela bandidagem, por meio do tráfico. O choque era a sua não vida.
Fiquei um tempo ali, cismando. Cada um ao morrer leva junto um feixe de histórias. Não sei se alma, carma, destino existem. Mas ser sujeito de histórias é a prova inescapável da nossa existência. A terrena, ao menos.
Que memórias aquele corpo, de onze ou treze anos, estava levando embora? Talvez, contos de uma mãe assustada, de um pai desconhecido, de irmãos menores. Será que aquele menino tinha um cachorro? Uma pipa ou uma professora?
Dei de ombros, me afastei da cena. Senti que meu dia estava definitivamente arruinado. Quando cheguei no asfalto, segui cismando. Aquele homicídio não findava tão somente histórias vividas.
Aquela morte prematura ceifava um futuro de histórias. Banhos de mar. Um casamento. Alguns empregos. Anos de contribuição previdenciária. Um troféu. Filhos. Uma traição amorosa. Saudades da avó. Uma viagem ao sertão. Mil sonhos.
4 comentários:
Um estar por vir que deixou de ser. Uma triste abreviatura.
Linda essa ilustra hein Mestre!!! Demais!!! :D
pô Placitte, um elogio vindo de vc vai me deixar metido.
abs
carvall
Tocou fundo o meu coração.
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