Fórina
Fingimos não saber?
Ano a ano, o governo do estado tenta empurrar novas regras que vão gradativamente mitigando o poder das univeridades públicas. A cada vez, uma parcela dos estudantes, professores e funcionários, se mobiliza na tentativa de levar à população informações que seriam de outra forma ignoradas pela grande mídia. Essa costuma se fazer de surda por dias e até meses, até que alguma coisa toma proporções grandes demais para se fingir que nada está acontecendo.
Com os jornais online, a participação dos leitores tem apontado para um novo padrão de interação entre meio e público, e também de leitores entre si. Pois que Alguns dos tais fóruns de discussão sobre a última greve de estudantes, professores e funcioinários das universidades do Estado de São Paulo parecem revelar algo das cicatrizes deixadas pela ditadura, que, em termos históricos, não acabou há tanto tempo atrás em nosso país. Ao lado de comentários que parecem fazer um grande esforço em se mostrarem “imparciais” (a imparcialidade a maior ilusão, ou mais explicitamente história pra boi dormir, do jornalismo), encontramos sempre uma variedade de enraivecidos defensores da “ordem” por meio do cacetete e, por que não, das armas de fogo. Para esses, qualquer tipo de manifestação implica em inerente incapacidade e pendor para a inércia dos participantes, os quais, em suas palavras, “não querem trabalhar”.
Ao mesmo tempo me veem à mente um sem número de conversas em que tomei parte – ou que simplesmente fui levada a ouvir devido à grande proximidade entre desconhecidos que ocorre em uma cidade grande – em que os falantes lamentavam a falta de envolvimento do brasileiro com questões políticas (“ninguém faz nada...”) ou a humilhante tendência à corrupção e inação dos políticos “no Brasil” – essa última característica, algo que nos define mesmo como brasileiros, e sem a qual talvez nossa identidade pareça algo incompleto, falho: “Mas no fim, não dá em nada...”, “Acaba tudo em pizza!”. Com frequência das mesmas bocas se pode ouvir frases como “O Brasil precisa é de educação”.
A incoerência de tais discursos me faz pensar que a ditadura nos criou um certo gostinho por, hum, como direi... se ferrar mesmo, ao ponto de certas pessoas sentirem a necessidade de defenderem um privilégio que nao é para elas, ficando com esporádicas migalhas ou mesmo sem participarem de forma alguma nos resultados da pilhagem... e esse jogo de associações vai me trazendo à memória aquela canção do Tom Zé, cuja letra é mais ou menos assim:
“De vez em quando todos os olhos se voltam pra mim
De lá do fundo da escuridão
Querendo apanhar, querendo que eu bata, querendo que eu seja um deus...
Mas eu não sei de nada, eu não sei de nada, eu não sei de nada, eu não sei de nada, eu não sei de nada...
Mas eu sou até fraco, eu sou até fraco, eu sou até fraco, eu sou até fraco, eu sou até fraco...”
Pode ser que ela jogue uma luz sobre motivações provavelmente inconscientes de quem faz tanta questão de que qualquer assunto ou tentativa de diálogo que exijam um posicionamento seu como indivíduo participante de uma sociedade sejam encerrados pela ação, preferencialmente truculenta, da polícia...
22 de jun. de 2009
Fingimos não saber?
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2 comentários:
Fernando, parece que metade do texto foi parar no fim!
sera que foi por conta do hyperlink?
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