Fernanda Pompeu
Pode acreditar. Houve uma época em que os estudantes organizados representavam força política. Eles apostavam em consertar o mundo e transformar a vida.
O que vou contar aconteceu no 22 de setembro de 1977. Era noite quando a tropa de choque e policiais civis - comandados pelo coronel Erasmo Dias - invadiram o campus da PUC paulistana, no bairro de Perdizes.
Os policiais civis e militares entraram com cassetetes, gritarias injuriosas e muitas bombas. As de gás lacrimogêneo e outras capazes de queimar peles. Também fizeram ruidosa quebradeira no patrimônio da Pontifícia.
Estudantes, funcionários, professores - mais de dois mil - correram em pânico. Os homens da ditadura encurralaram todos em um estacionamento – que existia em frente ao Tuca, o teatro da universidade.
Aí, o coronel pegou o megafone: quem for da PUC será liberado, porque não podemos saber quem é baderneiro e quem não é. Os que forem da USP estão presos.
Eu era da Universidade de São Paulo. Junto com centenas de colegas, passei a madrugada no Batalhão da avenida Tiradentes. Fomos submetidos a empurrões e sermões de direita e cívica. Fomos fotografados e fichados. No dia seguinte, soltos em pequenos grupos.
O motivo da violência: impedir a realização do III Encontro Nacional de Estudantes. Pode acreditar. Houve uma época em que discordar era crime.
3 de jul. de 2009
era uma vez no Brasil
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8 comentários:
Carvall,
Que ilustra boa!
Erasmo Dias era o mal personificado, quase perfeito em sua simples figura.
Nós éramos jovens, belos e o futuro nos pertencia.
Vencemos?
Beijos,
Clélia
Minha muito querida, acho que perdemos. Beijos, Fernanda.
Querida Fernanda,
você se lembra como o coronel foi generoso no batalhao da Tiradentes quando nos ofereceu uma raçao antes de nos liberar? Ele amava os cavalos...
Que bom que você tem memória.
Ma
Marilda muito querida,
é uma delícia dividir nossas memórias de juventude, né? Apesar da dureza política, tínhamos deusas dentro de nós.
Desci a rampa do prédio novo de mãos dadas com meus colegas, levando cacetadas nas pernas, com olhos ardendo e lacrimejantes, efeito das bombas.
No estacionamento procurei te ver, mas só exerguei a fileira dos onibus da CMTC.
Fui para casa apavorada e assim
permaneci até a 7:00 , qdo veio a ligação do Tobias Aguiar , informando o seu paradeiro,
Para os jovens pode paracer surrealismo, uma esperiência Kafkiana.
Mas foi verdade, "meninos eu vi", nós vivemos.
E por que vivemos, podemos contar para todos.
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