3 de jul. de 2009

era uma vez no Brasil








Fernanda Pompeu

Pode acreditar. Houve uma época em que os estudantes organizados representavam força política. Eles apostavam em consertar o mundo e transformar a vida.
O que vou contar aconteceu no 22 de setembro de 1977. Era noite quando a tropa de choque e policiais civis - comandados pelo coronel Erasmo Dias - invadiram o campus da PUC paulistana, no bairro de Perdizes.
Os policiais civis e militares entraram com cassetetes, gritarias injuriosas e muitas bombas. As de gás lacrimogêneo e outras capazes de queimar peles. Também fizeram ruidosa quebradeira no patrimônio da Pontifícia.
Estudantes, funcionários, professores - mais de dois mil - correram em pânico. Os homens da ditadura encurralaram todos em um estacionamento – que existia em frente ao Tuca, o teatro da universidade.
Aí, o coronel pegou o megafone: quem for da PUC será liberado, porque não podemos saber quem é baderneiro e quem não é. Os que forem da USP estão presos.
Eu era da Universidade de São Paulo. Junto com centenas de colegas, passei a madrugada no Batalhão da avenida Tiradentes. Fomos submetidos a empurrões e sermões de direita e cívica. Fomos fotografados e fichados. No dia seguinte, soltos em pequenos grupos.
O motivo da violência: impedir a realização do III Encontro Nacional de Estudantes. Pode acreditar. Houve uma época em que discordar era crime.

8 comentários:

Fernanda disse...

Carvall,
Que ilustra boa!

Clélia disse...

Erasmo Dias era o mal personificado, quase perfeito em sua simples figura.
Nós éramos jovens, belos e o futuro nos pertencia.
Vencemos?

Beijos,
Clélia

Fernanda Pompeu disse...

Minha muito querida, acho que perdemos. Beijos, Fernanda.

marilda carvalho disse...

Querida Fernanda,
você se lembra como o coronel foi generoso no batalhao da Tiradentes quando nos ofereceu uma raçao antes de nos liberar? Ele amava os cavalos...
Que bom que você tem memória.
Ma

Fernanda Pompeu disse...

Marilda muito querida,
é uma delícia dividir nossas memórias de juventude, né? Apesar da dureza política, tínhamos deusas dentro de nós.

Claudia disse...

Desci a rampa do prédio novo de mãos dadas com meus colegas, levando cacetadas nas pernas, com olhos ardendo e lacrimejantes, efeito das bombas.
No estacionamento procurei te ver, mas só exerguei a fileira dos onibus da CMTC.
Fui para casa apavorada e assim
permaneci até a 7:00 , qdo veio a ligação do Tobias Aguiar , informando o seu paradeiro,
Para os jovens pode paracer surrealismo, uma esperiência Kafkiana.
Mas foi verdade, "meninos eu vi", nós vivemos.

Fernanda Pompeu disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Fernanda Pompeu disse...

E por que vivemos, podemos contar para todos.