Fernanda Pompeu
Gosto de averiguar o que existe por trás da sala de visitas. Enquanto não conheço a cozinha e os quartos de uma casa, levo a frustração de não ter entrado nela.
Também é assim com os ofícios. Quero saber do segredo que faz o petisco de uma quituteira ser melhor do que de outra, ou por que um piloto pousa como uma pluma na pista de Congonhas e outro aterrissa como um elefante.
Mas o que mais me fascina são os fundos. As áreas de serviço dos apartamentos e os quintais das casas. Posso passar horas olhando roupas penduradas em um varal. Calças, sobretudos, fronhas, saias, camisetas.
Observando-as faço um mapa dos moradores, criando um território. Sei se há crianças na casa e suas idades, se a mulher trabalha no escritório ou no armazém, se o homem é mecânico ou médico.
A gente conhece muito da natureza das coisas e das pessoas quando ultrapassa o arrumadinho delas. Porque as coisas e as pessoas têm a cara da frente e a cara de trás. Algumas caras dialogam; outras, esgrimam.
Domingo passado, estive na casa de uma amiga, no bairro de Santa Teresa, Rio. A janela do quarto onde dormi dava para o quintal. Através dela eu avistava o Castelinho do Valentin – construção centenária.
Melhor, avistava os fundos dele. Um convite para a imaginação cantar.
5 de out. de 2009
bastidores
Marcadores:
baú sem fundo,
Brasil,
crônica,
literatura
Assinar:
Postar comentários (Atom)
3 comentários:
realmente observar o que cerca as pessoas as vezes nos consegue falar muito mais.
Adorei. Também fico inquieta quando conheço uma sala de estar. É um suplício imaginário.
Carvall, Carvall
Escrever para você ilustrar é uma inspiração.
Fernanda
Como você pode serb tão doce?
Postar um comentário