2 de ago. de 2009

vale-riso







Fernanda Pompeu

Outro dia, num táxi, fazendo o trajeto Vila Madalena-Pompéia, o motorista me brindou com uma historieta pessoal. Ele contava que, depois de metalúrgico desempregado, havia conduzido ônibus urbanos por mais de vinte anos.
Disse que trabalhou na companhia Santa Brígida, apelidada pelos funcionários de Santa Rígida. Pois a empresa punha fiscais disfarçados de usuários dentro dos coletivos. Sem uniformes e pagando a passagem, monitoravam tudo.
Inclusive, continuou o taxista, se flagrassem o condutor conversando com mulher, podiam puni-lo com demissão. Exagero ou não, adorei a alcunha Santa Rígida.
Lembrei-me, quando criança, que o povo chamava as viaturas policiais de coração de mãe, porque sempre cabia mais um. E, hoje,
os funcionários da Universidade de São Paulo chamam o auxílio-refeição de vale-coxinha.
Pode ser que um lúcido 24h diga que essa operação de deslocar significados não passe do prazer de escarnecer da própria miséria. Talvez. Mas eu, lúcida meio expediente, me divirto.
Faz um tempinho, meu pai me contou uma excelente anedota-verdade. Senadores, deputados e autoridades de alto coturno têm um adicional gorducho para comprar ternos, camisas e gravatas. O apodo da benesse? Vale-paletó.
A bordo de trancos e trocadilhos, navegamos em direção ao rochedo. Vez ou outra, para matar o tempo, pilheriamos.

3 comentários:

Marisa Ferraz disse...

Uma delícia! Como sempre.

Geremias disse...

Dona Fernanda, bom esse texto, hein?!

Silvia Artacho disse...

Tá bom prá burro!