Por João Pedro Stedile na Caros Amigos de Abril de 2008
O Brasil é o maior exportador mundial de soja. Mas quem controla esse comércio são cinco empresas: Bunge, Cargill, ADM, Monsanto e Dreyfus. Há poucos anos, a produção de fertilizantes brasileira era feita pela Petrobras e algumas empresas nacionais. Agora, apenas três transnacionais têm o oligopólio de todos os fertilizantes no Brasil.
As sementes de milho eram produzidas por agricultores e por centenas de pequenas e médias empresas brasileiras. Hoje, cinco empresas transnacionais controlam todo o comércio dessas sementes.
Na maioria dos países, a soja transgênica da Monsanto, que só produz com o herbicida round-up da mesma empresa, está proibida. No Brasil conseguiram liberar.
O presidente francês Sarkozy proibiu o milho transgênico Monsanto 810. Aqui, o governo liberou com votos de sete ministros. A empresa finlandesa Stora Enzo infringiu a lei e comprou 56.000 hectares de terras de mais de quatrocentos proprietários brasileiros na fronteira com o Uruguai, para o monocultivo de eucalipto. No Uruguai, ela já é dona de quase 25 por cento do território.
Três empresas de celulose investiram mais de 500.000 reais na campanha da governadora gaúcha Yeda Crusius. Ela mudou a lei ambiental que impedia a disseminação do monocultivo do eucalipto. E usa a Brigada Militar contra qualquer mobilização social.
A Aracruz roubou em 1969 cerca de 15.000 hectares do tupis e guaranis e instalou sua fábrica em Aracruz, Espírito Santo, em cima do que era a aldeia. Depois de muitas mobilizações camponesas e indígenas, no ano passado a Justiça a condenou a devolver os 15.000 hectares.
O capital internacional quer dominar a produção de etanol no Brasil para exportar para os EUA e Japão. A área do monocultivo de cana deve dobrar de 6 para 12 milhões de hectares nos próximos anos. A Petrobras constrói dois alcooldutos, partindo de Cuiabá e Goiás até Paranaguá e Santos. Está prevista a construção de 77 usinas de etanol, a maioria de capital estrangeiro.
A Syngenta reproduzia sementes de milho transgênico a menos de 800 metros do parque nacional de Iguaçu. Estava proibida essa reprodução e mesmo quando liberada não pode ser a menos de 10 quilômetros de parques.
Com a aprovação do milho transgênico, ele vai se misturar e acabar com as variedades crioulas. Os camponeses perderão a autonomia sobre o principal cultivo do Brasil.
Raras empresas estão cumprindo a lei que estabelece que todas as empresas que usam soja e outros produtos transgênicos devem colocar um símbolo de um triângulo nos rótulos alertando os consumidores. E ninguém faz nada!
A Coca-Cola, Suez (francesa) e Nestlé já dominam o comércio de água potável no Brasil. O litro de água potável é mais caro do que 1 litro de gasolina ou de leite.
Diante desses fatos, que a grande imprensa, esconde da população, é que as mulheres da Via Campesina resolveram se mobilizar. Os governos fingem que não têm nada a ver com isso. Já as empresas mobilizaram rapidamente seus lacaios na imprensa, que vociferaram em defesa da propriedade, da família, da tradição... do capital! Algum dia, todo o povo brasileiro compreenderá o significado da mobilização das mulheres camponesas.
João Pedro Stedile é membro da coordenação nacional do MST e da Via Campesina.
10 de abr. de 2008
As mulheres da Via Campesina estão certas!
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