24 de dez. de 2008

milhão!



Sim senhores leitores, nós, os politicamente icorretos,
também já ganhamos nosso primeiro milhão com a internet.
Afinal isto é uma ong!
Vamos consumir nossa fortuna em alguma beira de praia até
que dê vontade de voltar.
E como a filosofia é fruto da vagabundagem, acreditem,
estaremos filosofando.
Que venha 2009.

22 de dez. de 2008

os ecaluzes



Fernanda Pompeu


Éramos um bando. Estudantes da ECA / USP. Moças e rapazes cabeludos. A tiracolo, bolsas de couro ou de lona. Nos pés, congas ou as prazerosas (por onde andam?) sandálias franciscanas. Ainda não vivíamos sob império das marcas, nem sob a tirania das grifes. Também não conhecíamos os ditames do “pensamento único”.
Nosso negócio era uma vida desetiquetada. Sem a ameaça da Aids e na segunda geração dos contraceptivos, todo mundo transava com todo mundo. Uma festa. Não havia academias de ginástica e então o verbo malhar era sinônimo de trabalhar. Mas corríamos – como corríamos! – da polícia, quando das passeatas e atos públicos.
Acreditávamos na alta cultura. Éramos fãs do Rainer Fassbinder e John Cage. Sabíamos de cor diálogos de Esperando Godot do Beckett: “Se o galho enforca você / enforca a mim também.” Pelos corredores da ECA, recitávamos versos de Maiakovski: “Come ananás, mastiga perdiz. Teu dia está próximo, burguês.”
Bonitos e arrogantes pensávamos que o mundo começava com a gente. Antes de nós, a barbárie. A ignorância dos poucos anos de vida era a auréola que nos fazia meio loucos, meio anjos. Como em todas as épocas, imemoriais e memoráveis, nosso mapa e território atendiam pelo nome de Juventude.

VAI E VÉM!



Olmeca de Tlachtli

AH! Chegou o momento que causa frisson nas torcidas de todo o país.

A hora da verdade: ou seu time toma vergonha na cara e contrata atletas que façam – alguma – diferença ou 2009 será mais um ano para sofrer.

Não sei quanto a vocês, mas essa é uma época do ano que eu fico literalmente viciado em transferência de jogadores. Chego a me sentir como um empresário, mas não daqueles de caráter duvidoso, mas sim um, digamos, legal (se é que existe...rs)

O São Paulo, mais uma vez, saiu na frente nas contratações e fez uma limpa no Flu. Levou Washington, Júnior César e ainda periga de levar o Arouca. Quem mandou eliminar o tricolor da Libertadores 08? E, de quebra, repatriou Eduardo Costa, bom volante do Espanyol.

O Timão também não perdeu a viagem e trouxe logo o Fenômeno – volta em grande estilo e peso! – além de Jorge Henrique, atacante habilidoso vindo do Botafogo e a experiência do voltante Túlio, também do fogão, que, aliás, é outro time carioca que sofreu um ataque nuclear e perdeu todos os seus jogadores – incrível!. O timão está insaciável e ainda tirou o zagueiro Jean, do Grêmio.

O Santos, manteve seu treinador, Márcio Fernandes, diga-se de passagem de forma justíssima. E vejam só: mais jogadores do Botafogo: Lucio Flávio. Meia habilidoso, de bom passe e ótima opção para a bola parada e o lateral esquerdo Triguinho. Para piorar ainda mais o vira-vira do Vasco, o único atleta com lucidez do elenco lusitano foi contratado pelo peixe: Madson.

O Palmeiras, parece estar seguindo a linha dos cariocas. Até agora só perdeu jogadores, e alguns deles com importância para o elenco, como o lateral Leandro. O porco tem apostado em jogadores de nível duvidoso como Maurício, zagueiro do Coritiba, Cleiton Xavier, meia do Figueirense e Marquinhos, meia habilidoso do Vitória. Não são jogadores ruins, mas você já não viu esse filme antes? Jogam muito em times de pouca expressão, mas na hora “H” pipocam.


Curiosidade: Que feirão livre é esse na Argentina? Impressionante como só agora os clubes brasileiros descobriram o mercado da bola dos hermanos!

Grande abraço e boas compras para seu clube!

15 de dez. de 2008

Fenômeno, ou Fofômeno?



Olmeca de Tlachtli

Ele chegou! Ronaldo - o Fenômeno – finalmente foi apresentado à fiel torcida corinthiana.
Impressionante como Ronaldo é fenomenal – me desculpem a redundância, ou redondância? Whatever...- no que diz respeito a sua imagem! O astro realmente consegue captar os olhos de toda a mídia esportiva, mesmo com toda a cautela em relação a sua volta como jogador de futebol.
A volta de Ronaldo representa uma revolução na forma de pensar dos dirigentes do nosso futebol. Sim, é possível inovar, ousar.
Repatriar um grande nome é algo custoso? Sem sombra de dúvida que sim. Mas, pense como isso, com o mínino de conhecimento de Marketing, pode tornar qualquer negócio, que a princípio pareça inviável, em algo vantajoso.
O caso Ronaldo Fenômeno é um ótimo exemplo. Ele ainda nem jogou, e vejam o que repercussão já causou! O Corinthians nunca obteve tanta exposição internacional como agora. Ronaldo foi capa dos principais periódicos esportivos durante toda a semana. Mais de oito canais de TV alteraram sua grade de programação só para ver a apresentação do Fenômeno.
Aí, você ainda me questiona se valeu à pena? Mesmo se Ronaldo nem entrar em campo, já valeu.
Agora, eu espero que essa contratação bombástica cause aquela disputa saudável entre os clubes, que com certeza irão em busca de grandes reforços, e isso só trará benefícios ao futebol nacional.
Agora, que o Fenômeno está fora de forma, ah está...

Cornetando:

Borges, o rei dos gols xenical, já soltou mais uma bufa: “Vou disputar a artilharia com o Ronaldo”

Marcos,, goleirão do Palmeiras: “Agora, vou ter muito mais trabalho”

Marco Aurélio Cunha, dirigente fanfarrão do Sampa: “Parabéns pela ousadia, Corinthians”.

A fatura chegou



Estudantes gregos são os primeiros a cobrar promessas não entregues

por Hector Plasma*

As recentes manifestações dos estudantes gregos são abordadas pela mídia como um movimento restrito a alguns supostos 'anarquistas' que se respaldam na impossibilidade das forças de segurança invadirem os campi universitários.
Também cansaremos de ler e assistir reportagens sobre os prejuízos causados pelos baderneiros e outros que a Grécia terá no turismo. Números não faltarão.
Qualquer subterfúgio valerá para restringir o movimento à baderna.
Mas o real significado da revolta é a frustração dos jovens. O slogan do movimento é auto-explicativo: "nossa cólera tornou-se nosso combate". Os estudantes gregos estão cobrando uma vida que lhes foi prometida e não foi entregue.
Vivemos a 'era do conhecimento', ou pelos menos nos vendem essa idéia de que um curso superior, fluência em outras línguas, cursos de especialização nos levarão ao olímpo e, assim, poderemos viver plenamente todas as sensações à venda no mercado. De outra forma, pulando todos os obstáculos impostos pelo mundo do trabalho teremos as portas abertas das corporações.
O depoimento da grega Katerina mostra o muro que encontrou uma jovem de 28 anos após ter feito todo o calvário imposto pelo mundo moderno:
"Meus pais se viraram aos quatro ventos para que eu pudesse estudar no estrangeiro. Já haviam feito sacrifícios durante meus estudos na escola, pagando cursos particulares (...). Estudei pesado em Paris, maîtrise [são os quatros anos de estudo que no Brasil significa bacharelado], DEA [diplôme d'études approfondies, que para nós seria o mestrado] e doutorado. Ao retornar [à Grécia] foi o banho frio. No primeiro trabalho que me propuseram, o salário era menor do que os trabalhos de estudantes em Paris. Era uma multinacional. Eles sabiam que eu falo fluentemente grego, inglês e francês. Mas isso não valia nada. Mudei de emprego e foi pior. Me ofereceram pagar parte de meu salário por fora, e sobretudo não pagar o seguro social. Finalmente entrei em uma empresa de telecomunicação onde trabalho das 7 horas da manhã até a tarde, sem pausa ao meio-dia. Evidentemente não me pagam hora extra. Algumas vezes ainda me chamam no final de semana. Mas, ao menos, eles me pagam no fim de cada mês. Não é o caso dos meus amigos, que devem implorar para serem pagos".
Outra novidade a ser observada é que os manifestantes são integrantes da classe média. O estudante morto, Andreas Grigoropulos, estopim das manifestações, estudava em um dos melhores colégios de Atenas, seu para era professor universitário e sua mãe comerciante. Portanto são novos atores com novas demandas.
Degradação do trabalho
A realidade descrita por Katerina é bem conhecida por nós brasileiros: trabalho informal e sem direitos garantidos em lei.
No Brasil ainda temos a figura do PJ's (pessoa jurídica), isto é, aquele cidadão que para conseguir trabalho deve abrir uma empresa. Talvez a Grécia não tenha chegado a tal sofisticação.
Muitos analistas colocarão a culpa pelas manifestações no governo 'corrupto' grego. Outros destacarão que o atual governo tentou modernizar o ensino público e arejar a estrutura pública grega e foi barrado pelo detentores de privilégios. Alguns dirão que a Grécia não se modernizou e suas atividades econômicas restringem-se à pesca e ao turismo.
Mas ninguém poderá escapar dos fatos. Tanto no Brasil como na Grécia, e provavelmente em vários países, o Estado, refém do mercado, fez vista grossa para a desregulamentação do trabalho. Os sindicatos, no caso do Brasil, também se esquivaram porque a cota financeira está garantida por lei no final do mês e não é interessante mexer em time que está ganhando.
O resultado foi que os salários foram achatados, a boa parte da produção de bens foi transferida para países sem nenhum compromisso com as leis, como a China, e a classe média viu o seu sonho minguar.
Não se sabe qual será o desenlace da história, mas com certeza os estudantes gregos não serão os únicos a bater na boca do caixa e apresentar a fatura. Só foram os primeiros.
Leia mais:
"La hoguera griega sigue encendida"
"Le retour au réel après l'argent facile"
"Les jeunes Grecs racontent leur colère"

*Hector Plasma já tem certeza que o Mercado nunca será um Deus grego.

12 de dez. de 2008

a glória não é dos segundos



Fernanda Pompeu

O acaso fez com que eu estivesse no Rio de Janeiro no domingo, 7 de dezembro. Na terra do Clube de Regatas do Flamengo e da Estação Primeira de Mangueira, fui testemunha da tristeza dos torcedores do Vasco da Gama. A segunda maior torcida carioca viu seu time despencar para a segundona.
Uma tarde de luto. Vi marmanjos, moças e meninos chorando. Os jogadores deixaram a arena mudos de dar dó. O torcedor Luís Fernando Vilaça, 21 anos, ameaçou se matar atirando-se da marquise do Estádio de São Januário. Foi salvo pelos bombeiros e por outro santo, o Sebastião, que zela pelo Rio de Janeiro.
Meditei que é mesmo difícil esse negócio de segunda divisão, segundo escalão, segundo lugar. Todo o mundo lembra dos primeiros. O primeiro a atingir o cume do Everest, Sir Edmund Percival Hillary, é cantado em prosa e verso. Mas ninguém lembra do segundo. Os corações suspiram pelo primeiro amor, mas pelo segundo... amnésia.
Na última Olimpíada, o sueco Ara Abrahamian atirou sua medalha ao chão. Verdade que a medalha era de bronze. Mas, puxa, era olímpica. O escrete nacional, em 1996, também se recusou a subir no pódio para receber a medalha de bronze. E toda vez que os canarinhos ficam em segundo, vice-campeões, a nação abaixa a cabeça.
O fato é que é complicado a posição de segundo. Eu sou a segunda filha de uma carreirinha de cinco. Minha terapeuta me ajudou a superar alguns traumas: herdar roupas e brinquedos usados da primogênita; ter menos fotografias do que ela; ter chorado com dor de barriga sem que papai e mamãe entrassem em pânico.

11 de dez. de 2008

Criacionismo em aula de ciências

Folha de S. Paulo 06/12/08



CHARBEL NIÑO EL-HANI

O criacionismo ser ensi­
nado em aulas de ciências? Em
minha visão, a resposta a esta
questão deve ser ’Não’ - mas com im­
portantes qualificações, que discuti­
rei abaixo. Antes de mais nada, é pre­
ciso dizer que este é um debate inte­
ressante, no qual devemos exprimir
nossas posições com clareza, evitan­
do a todo custo usar nossos argumen­
tos apenas em favor do proselitismo.
Mais do que apenas tomar partido, é
preciso esclarecer o que está em jogo.
O espaço é curto, mas vejamos alguns
pontos. Em artigo recentemente pu­
blicado no periódico internacional
Cultural Studies of Science Educa­
tion, em colaboração com Eduardo
Mortimer (UFMG), defendi a posição
de que, de um lado, professores de
ciências sempre devem ter em conta a
diversidade das visões do mundo dos
estudantes em suas salas de aula. Isso
significa que deve haver, sim, espaço
para a discussão de diferentes pers­
pectivas sobre fenômenos que a ciên­
cia explica, incluindo o criacionismo,
desde que representado na sala, e não
somente na perspectiva cristã, mas
em todas as perspectivas presentes
entre os estudantes. Mas, de outro la­
do, os professores nunca devem per­
der de vista que o objetivo do ensino
de ciências é, como deveria ser óbvio,
ensinar o conhecimento científico.
Assim, é necessário, sim, que os pro­
fessores estimulem os estudantes pa­
ra que compreendam as idéias cientí­
ficas - e tal como elas se apresentam
no conhecimento científico atual­
mente aceito. Seria certamente um
rompimento do contrato didático en­
tre professores, alunos, pais, adminis­
tradores, se, nas aulas de ciências, não
se tivesse como objetivo ensinar ciên­
cias, mas sim idéias oriundas de dife­
rentes tradições culturais. Nunca é
demais repetir: professores de ciên­
cias estão ali para ensinar ciências!
Por isso, minha resposta à questão
inicial é ’Não’. Mas notem a qualifica­
ção importante: isso não significa não
dar espaço a vozes discordantes do
conhecimento científico. Antes pelo
contrário, o professor de ciências de­
ve explorar essas vozes discordantes
para discutir as variadas maneiras co­
mo os seres humanos compreendem
e explicam o mundo, e, mais, a impor­
tância de se distinguir entre diversos
discursos humanos, fundados em
pressupostos distintos sobre o que
constitui o mundo (pressupostos on­
tológicos) e sobre o que constitui co­
nhecimento válido (pressupostos
epistemológicos). O discurso científi­
co é, em termos epistemológicos, de
caráter empírico, no sentido de que as
afirmações que a ciência faz sobre o
mundo devem ser sujeitas ao crivo da
experiência, devem ser testadas con­
tra o mundo empírico. Esse caráter
empírico implica, por sua vez, que,
em sua ontologia, o discurso científi­
co assume um naturalismo metodo­
lógico. Na medida em que os sistemas
naturais são os sistemas sobre os
quais podemos coletar dados empíri­
cos, somente estes figuram no discur­
so das ciências. É importante diferen­
ciar essa posição de um naturalismo
metafísico: não se trata de dizer que
entidades sobrenaturais (deuses, es­
píritos etc.) não existem (esta é uma
crença como qualquer outra e, since­
ramente, não é produtivo debater
crenças tão fundamentais). Trata-se,
antes, de dizer que estas entidades
não figuram no discurso das ciências,
porque afirmações que as empregam
não podem ser testadas empirica­
mente. Este discurso naturalista é le­
gitimo! Isso também parece óbvio,
mas é preciso destacar que, quando se
discute pluralismo e respeito à diver­
sidade, por vezes se perde de vista que
também o discurso científico deve ser
respeitado, deve ser reconhecido co­
mo legítimo! E, ademais, reunimos
nossas crianças e adolescentes em sa­
las de aula de ciências para aprender
este discurso científico sobre o mun­
do e seria um desrespeito aos estu­
dantes tanto negar-lhes a voz, quando
discordarem desse discurso, quanto
ter como objetivo ensinar-lhes idéias
que não são científicas, como, por
exemplo, idéias criacionistas. Esta
posição me parece um bom caminho
intermediário entre privar os sujeitos
em sala de aula de exprimir suas con­
cepções sobre o mundo e simples­
mente querer ensinar o que não é
ciência como se o fosse.

�CHARBEL NIÑO EL-HANI�, bacharel em ciências biológi­
cas, mestre e doutor em educação, é professor do Institu­
to de Biologia da UFBA (Universidade Federal da Bahia) e
do Programa de Pós-Graduação em Ensino, Filosofia e
História das Ciências da UFBA/UEFS (Universidade Esta­
dual de Feira de Santana). É bolsista de produtividade em
pesquisa 1-D do CNPq.

Exílio prolongado

Folha de S. Paulo 10/12/08


ANTÓNIO GUTERRES

REFUGIADOS SÃO o símbolo de
nossos tempos turbulentos. A
cada novo conflito, jornais e
TVs são tomados por imagens de
multidões se movimentando, fugindo
dos seus próprios países com a roupa
do corpo e poucas coisas que podem
carregar. Quem sobrevive depende da
boa vontade de países vizinhos para
abrir suas portas e da habilidade de
organizações humanitárias para pro­
ver comida, abrigo e atenção.

Mas o que acontece quando o êxodo
termina, os jornalistas vão embora e o
mundo volta sua atenção para outra
crise? Quase sempre, os refugiados
são deixados para trás e gastam anos
de suas vidas em campos e acampa­
mentos miseráveis, expostos a peri­
gos e com direitos restritos.

As situações prolongadas de refú­
gio atingiram proporções enormes.
Estatísticas recentes do Acnur (a
agência da ONU para Refugiados)
mostram que cerca de 6 milhões de
pessoas estão no exílio por cinco anos
ou mais _sem contar os mais de 4 mi­
lhões de refugiados palestinos. Exis­
tem mais de 30 situações de refúgio
prolongado no mundo, a maioria em
países da África e da Ásia que sofrem
para garantir as necessidades dos
seus cidadãos.

Na prática, muitos desses refugia­
dos estão presos. Não podem voltar
casa porque seus países de origem
-Afeganistão, Iraque, Myanmar, So­
mália e Sudão, por exemplo - estão
em guerra ou são afetados por viola­
ções dos direitos humanos. Na maio­
ria dos casos, as autoridades dos paí­
ses de refúgio não facilitam a integra­
ção local nem concedem cidadania.
Apenas uma pequena parcela conse­
gue ser reassentada na Áustrália, Ca­
nadá, Estados Unidos ou outro país
desenvolvido.

Durante longos anos no exílio, es­
ses refugiados têm uma vída difícil.
Muitos não têm liberdade de movi­
mento ou acesso à terra, e não podem
procurar trabalho. O tempo passa, e a
comunidade internacional perde o
interesse nessas situações. O finan­
ciamento seca, e serviços essenciais
como educação e saúde ficam estag­
nados e se deterioram.

Espremidos em acampamentos lo­
tados, sem renda e sem o que fazer, os
refugiados são afetados por doenças
sociais como prostituição, estupro e
violência. Não é de se estranhar que
muitos assumam o risco de se mudar
para áreas urbanas ou migrar para
outro país, colocando-se nas mãos pe­
rigosas de traficantes de pessoas.

Meninas e meninos refugiados so­
frem ainda mais. Uma proporção
crescente dos exilados nasceu e cres­
ceu no ambiente artificial de um cam­
po de refugiados, seus pais sem condi­
ções de trabalhar ou dependentes das
escassas rações fornecidas por agên­
cias internacionais. E mesmo se a paz
retorna a seus países de origem, esses
jovens voltarão para uma ‘terra natal‘
que nunca viram e onde sequer falam
a língua local.

Considero intolerável que o poten­
cial humano de tantas pessoas seja
desperdiçado no exílio. É imperativo
tomar medidas solucionar essa triste
situação.

Primeiro, é necessário deter os con­
flitos armados e as violações de direi­
tos humanos que levam ao exílio e à
vida como refugiados. Neste aspecto,
a ONU tem um papel importante co­
mo mediadora, negociadora, por
meio das suas forças de paz ou punin­
do os culpados por crimes de guerra.

Segundo, mesmo com a escassez de
fundos por causa da atual crise finan­
ceira, todo esforço deve ser feito para
melhorar as condições dos refugiados
em exílio prolongado, seja em acam­
pamentos, nas cidades ou na zona ru­
ral. É preciso prover meios de vida,
educação e treinamento. Com isso, os
refugiados terão uma vida mais pro­
dutiva e recompensadora, podendo
preparar seu futuro - onde quer que
seja.

Finalmente, mesmo sabendo que
não se resolve o problema levando to­
das as pessoas para países desenvolvi­
dos, as nações mais ricas devem reas­
sentar parte dessa população, princi­
palmente os mais vulneráveis, de­
monstrando sua solidariedade com
os países que abrigam muitos refugia­
dos.

Os problemas dos refugiados são
responsabilidade da comunidade in­
ternacional, e só são enfrentados com
cooperação e ações coletivas. Deve­
mos assegurar que a assistência aos
refugiados também beneficie as po­
pulações locais. Devemos encorajar a
comunidade internacional a apoiar os
países dispostos a naturalizar e dar ci­
dadania a refugiados. E devemos ter
abordagens mais efetivas para o re­
torno e reintegração de refugiados
em seus países de origem, fazendo
com que se beneficiem e contribuam
para os processos de construção da
paz.

ANTÓNIO GUTERRES, 59, é o alto comissário da ONU pa­
ra Refugiados, chefe do Acnur (a agência da ONU para Re­
fugiados) e ex-primeiro-ministro de Portugal.

8 de dez. de 2008

Tricolaço!



Olmeca de Tlachtli

Acabou. O Brasileirão 08 chegou ao fim, e com ele mais um caneco conquistado pelo tricolor do Morumbi. Hexacampeão!
Muricy Ramalho entrou para o seleto grupo dos treinadores outstanding – fica mais chique escrever em inglês – com três títulos brasileiros de forma consecutiva, se igualando ao saudoso Rubens Minelli, também com três canecos.
A diferença é que Muricy foi o único a conquistar os três títulos com o mesmo clube.
AH! Continuando com minha teoria dos “gols xenical”, ontem o tricolor provou mais uma vez que tem uma largura do tamanho da Avenida Paulista.
Hugo errou o chute e caprichosamente a pelota foi parar no pé esquerdo do predestinado Borges – o rei dos gols cagados – e desta vez com um plus: gol cagado com um toque de salto triplo alá Maurren Maggi, o que resulta no não menos famoso “gol xenical flatulento”.
Borges estava mais de um metro impedido! O que não tira o mérito do tricolor, mas deixa mais uma vez em evidência a falta de preparo dos bandeiras.
Esse é o São Paulo: retrato de um time que, com um pouco mais de organização e visão que os demais, ganhou uma significativa vantagem competitiva e o tornou o maior dos vencedores no cenário nacional. E um time campeão sempre tem, além de tudo, sorte.
Gosto amargo no chimarrão dos gaúchos – do lado azul, claro! – que deixaram o tricolor chegar e o custo disso todos nós sabemos.
Impressionante a incompetência – e a sorte - do Palmeiras, que contou com a fortuna de todos os outros concorrentes pelas vagas na Libertadores 09 terem perdido – ok Cruzeiro, você venceu! - seus jogos. Milagre de San Gennaro (ou de São Marcos).
Em relação ao Flamengo, o urubu anda realmente rondando a Gávea. O rubro-negro carioca deixou escapar uma vaga na libertadores 09 dada como certa, e encerrou de forma melancólica o Brasileirão 08.
E o Vasco? Mais um dos grandes que vai pro buraco. É triste vermos a fraqueza de um gigante do futebol nacional. A aposentadoria de Edmundo – o Animal – não poderia ter sido mais manchada.
Um jogador polêmico, mais de futebol incontestável.
Um grande clube, de futebol tão pequeno.
Você já reparou que os rebaixados sempre possuem características em comum?
Administração duvidosa, times medíocres, salários atrasados, negociações nebulosas e dirigentes fanfarrões. Essa é a fórmula do coquetel molotov do futebol.
Parabéns, Tricolaço.
E breve regresso ao Vasco.

Saia desse corpo que não (mais) te pertence



Hector Plasma

Qual foi a explicação para a nomeação de Henrique Meirelles para o chefe do Banco Central?
Na época, 2003, era pelo seu trânsito pelo mercado financeiro e por ter sido presidente do BankBoston. Eram os tempos em que se acreditava no capitalismo de papel, com seus 'investment grade', 'agências de rating' e no combate da inflação através da taxa de juros.
Eram os tempos em que se avaliava, para o bem e para o mal, um país apenas por uma planilha de Excell.
Mas tudo virou pó, assim como o pensamento dominante do Copom do qual Meirelles é o chefe.
Agora é a hora da produção, do crédito para a produção e de taxas de juros visando a produção. Então qual a explicação para a manutenção de Meirelles no BC?
Ou Meirelles encarna outro espírito ou desencarna do cargo. É o começo de uma nova novela que veremos na próxima reunião do Copom, dias 09 e 10 de dezembro

5 de dez. de 2008


Ai de mim, Tijuca!


Fernanda Pompeu

O Instituto Lafayette ficava na rua Conde de Bonfim, Rio de Janeiro. Lá estudávamos meninas de classe média, todas brancas e, no final dos anos 60, sem muitos sonhos de ingressar numa faculdade. A maioria contentava-se em concluir o fundamental e só.
Eu morria de inveja do outro Lafayette, também na Tijuca, na rua Haddock Lobo, só para meninos. Tudo deles era mais vantajoso, a começar pelo prédio maior e mais bem equipado. A continuar pelos então cursos clássico e científico que só eles tinham.
Enquanto o Lafayette das meninas oferecia um laboratório de ciências com pássaros empalhados e um único esqueleto meio corpo; o Lafayette dos meninos ostentava tubos de ensaio, pias com torneirinhas e esqueletos inteiros.
A única vantagem que contávamos (a nós mesmas) era a de que o casarão, em que os professores fingiam que ensinavam e as alunas fingiam que aprendiam, havia sido a residência, por quase meio século, do Duque de Caxias – patrono do Exército Brasileiro.
Gostava de imaginar que Caxias havia engravidado a frase de efeito “quem for brasileiro que me siga” na sala em que decorávamos os tempos verbais. Gostava de imaginar que no teatro, onde não acontecia nada, o Duque ouvira o concerto da vitória sobre os paraguaios.
Depois tudo se transformou. Eu mudei para São Paulo; Caxias, de herói para serial killer. O histórico casarão foi ao chão. No enorme terreno, ergueram uma espécie da galpão. Hoje é um supermercado Sendas.

4 de dez. de 2008

Imprensa

3 de dez. de 2008

testemunha ocular


Fernanda Pompeu
Tinha eu doze anos, quando meu pai perguntou se eu queria participar da grande passeata que prometia sacudir, no 26 de junho, a cidade do Rio de Janeiro e reverberar nos quartéis. Ele era então um comunista de carteirinha, desses que arriscavam o pescoço militando nas células do PCB.
Eu, uma adolescente embriagada por todos os sonhos do varejo e do atacado. A revolução, à luz da minha inocência, estava na virada da esquina, ao alcance do desejo.
O ano era 1968 – havia começado com o assassinato do estudante Edson Luís, 18 anos, no restaurante Calabouço; continuado com o acirramento de várias repressões e findaria com o famigerado AI-5, presente de natal da ditadura para os brasileiros.
Meu pai e eu passeateamos de mãos dadas. Formávamos um par interessante. Ele bem mais velho do que os universitários, eu bem mais nova. Íamos compenetrados no meio da multidão e engrossávamos o repertório das palavras de ordem.
O coro de vozes, para ganhar adeptos, gritava: você que é explorado, não fique aí parado. Das janelas dos prédios, choviam papel picado e aplausos. Um raro momento de comunhão da sociedade civil democrática.
Passados 40 anos da histórica Passeata dos Cem Mil, o que ficou? Deixo as respostas para cada leitor. Para mim, restou a oportunidade de contar isso.

1 de dez. de 2008

Perrrdeu, Preibói!


por Olmeca de Tlachtli - o 1º boleiro da história

Boleiros,
Passada a sensacional penúltima rodada do brasileirão, pouca coisa mudou.
No jogo mais importante da rodada, o duelo de tricolores terminou num empate com sabor bastante amargo para o time do Morumbi, que diante de sua confiante torcida não desenvolveu um bom futebol.
Tartá abriu o placar para o fluzão, em boa jogada do carrasco Washington. Esse empate garantiu o flu matematicamente na série A.
Borges fez o - gíria de boleiro, ok?- chamado gol cagado. Foi tão cagado que resolvi batizar de “gol xenical”. E o que esse gol teve de lactopurga, também teve de importância para o jogo, pois foi esse lance que acendeu o São Paulo para o restante da partida, e pode mostrar também que o Fluminense tem sim um bom time, com jogadores capazes de desequilibrar uma partida (ótimo jogo de Arouca para o Flu e de André Dias para o Sampa).
O Grêmio – depois da vacilada incrível na semana passada – fez o óbvio e sacolou o limitado time do Figueirense – 4 x 1 -, mantendo o Brasileirão 08 emocionante até seu último segundo.
Espantoso como o Flamengo é amaldiçoado em determinados jogos no Maracanã. Hoje foi um bom exemplo para relembrarmos o fatídico Maracanazo da Copa de 50. O fla chegou a fazer –pasmem! – 3 x 0 no modesto time do Goiás e conseguiu ter a proeza de ceder o empate. É nessas horas que eu realmente entendo o mascote do fla ser um urubu! Vai ser zicado assim lá na Gávea!
Quem adorou o resultado foi o Palmeiras, que apesar do magro empate com o Vitória – 0 x 0 -, acabou terminando a rodada na zona para a Libertadores 09.
Na zona do rebaixamento a briga também está de arrepiar. A vitória do Vasco sobre o Coritiba – 2 x0 – manteve viva a esperança do time lusitano.
Ah, por falar em lusitano... Aqui jaz a lusa. A Portuguesa não tem mais chances de escapar da guilhotina e morreu abraçada com o outro já rebaixado: o Ipatinga, que pareceu mais uma espécie de “time bônus” do que uma equipe de futebol profissional.
Acho que meu time aqui da rua ganharia do Ipatinga facin facin. E o passe da galera custaria uma coxinha e uma coca-cola.
Chegamos aos mil gols no BR 08! O que mais uma vez mostra um campeonato disputadíssimo e de times bastante ofensivos.
Esse é o Brasileirão 08. Vacilou, perrrdeu preibói!
E quanto ao Grêmio? Será que ainda dá?